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Ex-árbitro diz não temer processos do presidente da Conaf, Sérgio Corrêa, a quem chamou de corrupto e mariquinha
Agora aposentado da arbitragem, Gutemberg de Paula Fonseca recebeu a reportagem do LANCENET! na sede da agência de publicidade que gerencia na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O fim de tarde foi agitado para Gutemberg, que não desgrudou do telefone para dar entrevistas a diversas rádios do país. Passada a hora do hush, ele pôde explicar com exclusividade - dentre outras coisas - o motivo de ter jogado no ventilador só agora as acusações de corrupção contra o presidente da Conaf, Sérgio Corrêa, de quem diz ter sofrido perseguição.
Gutemberg inclusive ainda se pergunta o motivo pelo qual foi tirado do quadro da Fifa. Ao LNET!, a entidade se limitou a dizer que a CBF não o colocou na lista para 2012 e recomendou à reportagem que procurasse a própria CBF, no caso Sérgio Corrêa, para que apresentasse a razão.
LNET!: Por que só divulgar agora essas práticas do Sérgio Corrêa, quando você já está aposentado e sem possibilidade de ser suspenso, caso isso tudo não seja provado?
GUTEMBERG: Não foi só agora. Venho desde 2007, quando sofri a primeira perseguição. Minha luta não é de hoje. Apresentei documentos para mostrar que eu não estava envolvido da maneira que mostraram, com superfaturamento de passagem, ou restrições. Juntei tudo, após um processo na 32ª DP e informei ao presidente, assinado por ele. Pedi que fosse publicado isso no site da CBF, mas ele ignorou. Nem me respondeu. Era meu primeiro teste da Fifa, passei no teste físico na época. Isso me atrapalhou a conseguir uma vaga na época.
LNET!: Falar só agora não foi ser conivente?
GUTEMBERG: Quantas vezes vocês da imprensa tentam falar com o árbitro e não conseguem, porque ele pode ser punido. Tive que abrir mão da minha carreira, aos 38 anos, tendo sido considerado o melhor árbitro do Rio, para poder falar o que muitos árbitros gostariam de falar.
LNET!: E as provas que você diz ter?
GUTEMBERG: Tenho um dossiê recheado de documentos e matérias. São 1.100 páginas. Não vou expor a documentação a fundo, porque meu advogado me aconselhou a não fazer isso, pois pode ser uma forma de ajudá-los a prepararem uma defesa em cima do que for apresentado. Mas estou disposto a mostrar tudo aos tribunais.
LNET!: Tem receio do que pode acontecer com você na Justiça?
GUTEMBERG: Se ele está me processando, eu também estou processando ele. Não estou preocupado com essa ameaça dele.
LNET!: Qual o embasamento que você tem para chamar o presidente da Conaf de corrupto?
GUTEMBERG: Quando falei sobre corrupção, afirmo que não é só seduzir por dinheiro, mas também por presente. Em 2009, o Sérgio foi acusado de oferecer dinheiro ao Djalma Beltrami. Ele retiraria o escudo da Fifa por um lugar no quadro especial e ficaria apitando até os 46 anos e apitando “bons jogos”. Beltrami confirmou, mas isso foi esquecido.
LNET!: Qual o problema atual da arbitragem?
GUTEMBERG: Quem conduz a arbitragem hoje é um egocêntrico, que não tem competência para estar ali. O que entristece é a falta de oportunidade para alguns árbitros de mostrar o serviço. Temos uma das melhores arbitragens do mundo. Mas o árbitro não pode ficar sofrendo o que sofre. Até o Simon, com três Copas, ficou pendurado em um poste. O jogador diz que árbitro tem que ser punido, mas não sabe da pressão na nossa cabeça. O erro está em quem administra: o Sérgio Corrêa e o Paulo Jorge Alves.
LNET!: Então você diz que há uma perseguição?
GUTEMBERG: Acho que é perseguição, uma coisa de ego. Ele tinha as preferências dele e começou a escolher. É um direito dele. Mas esse critério dele eu não entendo. Deixou de ser qualitativo e passou a ser político e isso reflete na arbitragem nacional. No meu caso, em 2010, fui o que mais clássicos apitei entre os cariocas. Em 2011, não entrei nem em sorteio. Se os jogadores dizem que os árbitros devem ser punidos pelos erros, digo que ele (Sérgio) também deveria ser punido. O problema da arbitragem hoje é a direção.
LNET!: E sobre as ligações?
GUTEMBERG: Estou na CBF desde 2004, com Armando Marques. Não me lembro de o árbitro ter a obrigatoriedade de ligar para o presidente da Conaf para ouvir “recomendações”. Não acho certo. Há alguns anos não tinha isso, hoje aparece no rodapé da escala. Não era Fifa em 2010 e, seguindo a orientação, liguei pra ele. Ele disse que eu “estava no jogo do Timão” contra o Goiás. Aquela ligação não me afetou, porque sou experiente. Mas imagina um árbitro inexperiente. Para que ligar antes do jogo? Isso é uma invenção dele.
LNET!: Foi a única vez?
GUTEMBERG: Não houve outras ligações. Tive pouco contato com ele. Até tentei falar com ele para esclarecer algumas coisas, pra ir para o jogo sem pensar que poderia ser meu último, porque tudo é motivo para pegar o árbitro como Judas.
LNET!: O que você está tentando fazer com essas denúncias?
GUTEMBERG: Quero uma mobilização para a apuração dos fatos, que vêm desde 2007 para cá. Quero uma autoridade na arbitragem, não um poder. Porque os árbitros são reféns desse poder. O árbitro não precisa da pressão que vem da presidência. É um momento único, diferenciado, acho que o povo brasileiro pede explicações. No Ministério do Esporte, Orlando Silva foi afastado até a conclusão das investigações. Isso deveria acontecer na Conaf.
LNET!: E como você recebeu a notícia de que tinha saído do quadro da Fifa?
GUTEMBERG: Não me deram explicação para me tirar da Fifa. Fui tratado como um cachorro. A Fifa tem seu regulamento, cumpri com todos e ele me tirou sem satisfação. Fiquei sabendo em 4 de janeiro, pelo site. Foi mais uma coisa que fez com que essa panela de pressão explodisse. No artigo 11 do regulamento da arbitragem diz que o árbitro para ser tirado do quadro da Fifa precisa que um argumento seja apresentado. E até hoje não sei qual foi.
LNET!: Acha que a Fifa foi conivente com a CBF?
GUTEMBERG: Não posso condenar nem a Fifa, nem a CBF, que está focada na Copa do Mundo. A entidade tem um departamento (arbitragem) diz que está tudo bem. O presidente tem que acreditar.
LNET!: Você não se preocupa em sofrer ameaças?
GUTEMBERG: Eu já sofri ameaças. No sábado, meu advogado recebeu uma ligação de alguém se dizendo ser o advogado do Sérgio Corrêa, que pediu o endereço do meu advogado para entregar uma suposta notificação. Ele não quis e o cara desligou o telefone. Esse senhor achou que coagindo iria me fazer parar de falar. Mas não vou me calar. Tenho que mostrar o que está errado. Se tiver que ir para dentro, eu vou mesmo.
Fonte: LANCENET!
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