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Ex-jogador do Tricolor vive atualmente na cidade de Sorocaba/SP
Com ele não tinha bola perdida, corpo mole e nem frescura. Ademir de Barros, o Paraná, vestiu as camisas do São Bento, do São Paulo e da Seleção Brasileira e ficou conhecido pelos torcedores na década de 60 por sua velocidade e garra dentro de campo.
Nesta quarta-feira, o jogador que encantou o mundo do futebol por mais de duas décadas completa 70 anos com um currículo repleto de títulos e histórias para contar.
Nascido em Cambará, no norte do Paraná, o ex-atleta mudou-se para Sorocaba, no interior de São Paulo, ainda jovem e buscou um espaço no futebol local. Trabalhando em um dos jornais da cidade, Paraná pediu uma chance para treinar com a equipe do São Bento.
- O pessoal do jornal jogava sempre contra o São Bento, mas nunca me deixavam porque tinham medo que eu me machucasse e que o meu chefe ficasse bravo. Então, um dia pedi para ele me deixar sair mais cedo para fazer um teste no São Bento. Ele deixou, eu passei e comecei a sair todo dia mais cedo para treinar - relembra.
Durante quatro anos, Paraná defendeu o time amador do Bentão, e em 1960 foi promovido à equipe profissional. Em 1962, era o ponta-esquerda do time que conquistou o primeiro acesso do clube à elite do Paulistão.
- Era um grande time. E eu fui até artilheiro do São Bento naquela época e olha que eu não era de fazer muitos gols. Mas eu batia falta dos dois lados.
Paraná não batia bem apenas faltas. Em 1965, o ex-jogador lembra que cometeu uma falta gravíssima em cima de um jogador do Prudentina, última partida que fez com a camisa do São Bento.
- Eu dei no joelho de um jogador. A hora que eu vi já sai direto do campo, nem esperei o juiz me expulsar - revela.
A personalidade forte e a categoria do então ponta despertaram o interesse de vários clubes grandes, entre eles o Santos de Pelé. Mas Paraná, apesar de preferir o clube da Baixada Santista, acabou assinando o contrato com o São Paulo em 1965.
- Eu estava em Mongaguá (litoral sul de São Paulo), curtindo as férias, aí me ligaram pedindo para voltar porque queriam me contratar. O Santos queria me levar, porque o Pepe já estava parando e eles precisavam de alguém para o lugar dele. O Santos ia dar dinheiro e mais o passe de um jogador. Mas o São Bento preferia o São Paulo. Eu pedi para ficar no Santos, mas o Falcão (João Mendonça Falcão), que era presidente da Federação Paulista de Futebol na época, era são-paulino e disse que, se eu não fosse para o São Paulo, eu não jogaria em mais nenhum clube. Então, eu fui para lá - conta.
Mas Paraná não se arrepende da escolha “forçada”. No São Paulo, ele jogou com as “feras”, como costuma dizer, e chamou a atenção dos dirigentes da Seleção Brasileira, tanto é que em 1966 esteve entre os 44 pr-econvocados para disputar a Copa do Mundo da Inglaterra. Mais do que isso, conseguiu se manter entre os 22 que foram para o Mundial.
E, sem papas na língua, Paraná explica por que aquele time cheio de craques foi eliminado precocemente do Mundial.
- Em 1958 e 1962 tinha o Paulo Machado de Carvalho (como chefe de delegação). Mas ele já não estava no ano que eu fui convocado e começou um bairrismo. O pessoal do Rio tirou todo mundo e o time perdeu o comando, a identidade. O Paulo brincava com a gente, era um chefe de delegação diferente. Em 1966 ninguém tinha vontade de jogar, contra Portugal não tinha jogador para escalar. Eu mesmo estava machucado, mas disse que poderia jogar e joguei.
Jogou e o Brasil perdeu para Portugal, por 3 a 1, sendo eliminado ainda na primeira fase. O jogo que ficou famoso pela consagração de Eusébio e pela caçada dos zagueiros portugueses a Pelé permanece na memória de Paraná - nem tanto pelo que aconteceu em campo, mas pelas consequências.
- Dei um soco no Carlos Nascimento (dirigente da Seleção da época) porque ele veio defender um radialista que veio gozar da minha cara. Eu disse para o Feola (Vicente Feola, técnico da Seleção): “Prefiro jogar no São Bento de Sorocaba do que jogar aqui”. E depois disso nunca mais fui convocado.
Paraná não se arrepende de nada que fez. De volta ao São Paulo, participou do time que foi bicampeão paulista em 1970/71, acabando com um jejum de mais de uma década. Rodou o país na década de 70 e, depois de um breve retorno ao São Bento, em 1978, pendurou as chuteiras.
Hoje, ao completar sete décadas de vida, diz que não se arrepende de nenhuma atitude que tomou, nem das mais drásticas, e sua única tristeza é a aposentadoria forçada. Desde que parou de jogar, Paraná trabalha como técnico de escolinhas de futebol da Prefeitura de Sorocaba, mas há uma lei que não permite que pessoas com mais de 70 anos trabalhem no setor público - a chamada aposentadoria compulsória.
- Eles querem me afastar e vão deixar essa criançada largada por aí. Eu adoro o que eu faço e não quero parar.
Fonte: Globo Esporte
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